quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Para relembrar

Autopsicografia


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Pessoa

4 comentários:

  1. Gosto desse:

    Isto

    Dizem que finjo ou minto
    Tudo que escrevo. Não.
    Eu simplesmente sinto
    Com a imaginação.
    Não uso o coração.

    Tudo o que sonho ou passo,
    O que me falha ou finda,
    É como que um terraço
    Sobre outra coisa ainda.
    Essa coisa é que é linda.

    Por isso escrevo em meio
    Do que não está ao pé,
    Livre do meu enleio,
    Sério do que não é.
    Sentir? Sinta quem lê!

    Fernando Pessoa

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  2. Um dos que mais gosto é Tabacaria. A minha imaginação fica hiperbólica ao ler tal punhalada do Pessoa!

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  3. ... gente... acabei de postar um pedaço dele lá no poema do Cassio!! Mas tem o Poema em Linha Reta também... é esse mesmo o título?

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  4. "Arre, estou farto de semideuses!
    Onde é que há gente no mundo?" - é esse o título mesmo

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