Passos e corações em trânsito
Em cada olhar, ventanias
Em cada gesto, aparentes mecanismos ocultos
de expectativas, projetos, experimentos...
Estou no meio do fluxo
Sou o fluxo pelo avesso
Estou no suor que me escorre entre o nariz
Sou o meu cheiro
O meu e o de todas as pessoas
E o da rua, árvores e carros,
dos pássaros, insetos e chaminés
Exposto no mercado público
entre tantos produtos e promoções
Estou invisível como o recheio dos churros e dos pastéis
ctrl + alt + del
Mas a caneta imita o ritmo
da respiração dos que vivem
e da putrefação daqueles que só existem mortos
Policiais montados espreitam toda a paisagem-cenário
Como centauros mercenários do moderno Estado burguês
Observando e vigiando
aqueles que não os observam nem os vigiam
Serenamente agitado como botões relváticos que circunvizinham pegadas
me entrego a dois tragos de aguardente
Na (in)certeza de que no cruzamento entre a rua
Jerônimo Coelho e a Francisco Tolentino
as flores que reluzem do alto dos postes
protegem os reflexos de minhas pulsações cardíacas
e a pequena esperança que ainda cultivo
de um dia ser do tamanho de todos os sonhos...
Florianópolis, 23/11/09
Que momento hein! lendo teus escritos, me senti realmente emocionado... principalmente o final dele, me fez antever os sonhos que perdi. A poesia tem disso. Mas raros são aqueles que passam tais emoções naquilo que escrevem.
ResponderExcluir... e viva as influências do autor!
ResponderExcluir"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Referência imediata ao assustador Álvaro de Campos, o mais humano dos heterônimos de Pessoa.
bingo, agata!
ResponderExcluirLembrei foi do mercado público lá de Florianópolis e de uma certa região próxima dele. Ah, e os hotéis mais baratos do centro.
ResponderExcluir